sábado, 31 de janeiro de 2009

Não basta malhar e "fechar a boca" para livrar adolescente obeso da síndrome metabólica.

Apoio psicológico foi considerado importante para adesão ao tratamento. Durante 12 meses de terapia multidisciplinar, 83 adolescentes obesos entre 15 e 19 anos praticaram exercício físico aeróbio orientado e receberam suporte clínico, nutricional e psicológico para controle da Síndrome Metabólica (SM), associação de fatores como aumento da pressão arterial, da resistência insulínica e dislipidemia. Os resultados começaram a surgir logo nos seis primeiros meses e, ao fim de um ano de terapia multidisciplinar, a prevalência da SM no grupo caiu de 27,16% para 8,3%.

No estudo, apresentado como tese de doutorado em Nutrição, na Unifesp, pela professora de educação física Danielle Caranti, foi comprovada a eficácia da abordagem multiprofissional e inter-profissional, com médico endocrinologista, psicólogos, professores de educação física e nutricionistas estimulando os adolescentes a mudar seu estilo de vida, a partir de um trabalho de valorização da auto-estima, socialização, reeducação alimentar, prática de exercícios físicos aeróbios em bicicleta ergométrica e esteira três vezes por semana (1h/dia) e reuniões com familiares ao final da terapia.

A Síndrome Metabólica (SM) é considerada uma das mais graves doenças emergentes, desencadeando riscos para diabetes, problemas coronarianos e acidente vascular cerebral (AVC). Caracterizada por um quadro que congrega pressão arterial elevada, dislipidemia (índices alterados de colesterol e triglicérides), resistência à produção de insulina e aumento da gordura visceral. A SM já atinge aproximadamente 27,16% dos adolescentes obesos no país, contribuindo para isso os hábitos alimentares inadequados, como o abuso de fast food, e o sedentarismo.

Vergonha e adesão

Segundo a pesquisadora Danielle Caranti, apenas a introdução dos exercícios e da orientação nutricional não seria suficiente para gerar efeitos duradouros, principalmente relacionados à questão psicológica. Por isso a relevância da multidisciplinaridade. Isto porque a adesão ao tratamento do adolescente obeso costuma ser prejudicada por baixa auto-estima e distúrbios de imagem corporal. “O adolescente obeso tende a sentir vergonha, por isso o apoio psicológico é essencial. Ao longo do tratamento multidisciplinar, ele não é excluído, está em um ambiente que o acolhe e valoriza, mas ao mesmo tempo há um trabalho no sentido da socialização, para não deixar que se isolem”.

Uma das conclusões da pesquisa é que as meninas não apresentam respostas tão expressivas quanto os meninos, que eram acometidos inicialmente em um estágio mais preocupante. Demonstrou também que a terapia multidisciplinar de longo prazo apresentou uma resposta que melhorava à medida que se prolongava o tempo de adesão, com efeitos benéficos no controle da Síndrome Metabólica em adolescentes obesos.

O programa não estabeleceu metas inatingíveis para a perda de peso, mas uma expectativa realista – partindo-se de uma adesão completa ao tratamento – estimando redução de 0,5 kg a 1,5 kg por semana. “O peso e a estética não são os objetivos principais, mas sim tornar o adolescente mais disposto, motivado, saudável e sem complicações, com integração efetiva à sociedade, já que a obesidade é uma doença multifatorial desencadeada principalmente devido ao estilo de vida”.

Saúde pública

Para a autora do estudo, publicado recentemente na revista Metabolism Clinical and Experimental, implantar atendimentos desse tipo como programa de saúde pública é viável, incorporando os professores de educação física do ensino regular a projetos de assistência ambulatorial e orientação de mudança de estilo de vida dentro das escolas, além de integrar o próprio profissional de educação física no âmbito hospitalar.

“Na Itália, onde realizei parte do estudo de doutorado, e em alguns outros países da Europa, já existem centros hospitalares especializados no combate à Síndrome Metabólica e Obesidade Clínica que utilizam a multidisciplinaridade como estratégia de tratamento não farmacológico”, conta Danielle Caranti.

Em outro estudo publicado pela pesquisadora no International Journal of Clinical Practice. a prevalência da Síndrome Metabólica foi expressiva no Brasil e na Itália, sendo que 34,8% dos meninos brasileiros – em comparação a 23,6% dos meninos italianos – apresentavam a SM. O mesmo foi demonstrado na avaliação das meninas: presença da SM em 15,6% das brasileiras e 12,5% das italianas.

Alerta e prevenção

Na opinião da nutricionista e docente da Unifesp, Ana Raimunda Damaso, orientadora do doutorado, estudos como este são importantes não somente por seus resultados, mas também para alertar a população sobre os riscos do descuido com a dieta dos jovens, que se transformam em sérios candidatos a problemas como diabetes, colesterol alto e doenças cardíacas graves.

Ainda segundo Ana Damaso, é preciso criar estratégias de prevenção e tratamento precoces, para que os jovens de hoje não se tornem adultos com sérios problemas de saúde. “O descuido com a alimentação acontece em todas as classes sociais. A classe mais pobre, por recorrer a carboidratos, que são alimentos mais baratos. E os ricos, porque não sabem escolher produtos com qualidade nutricional”.

Danielle Caranti alerta, entretanto, que o tratamento só tem bom resultado quando a vontade de emagrecer é do próprio jovem. “O adolescente tem que estar disposto a emagrecer. Sair do processo de contemplação para superar as dificuldades e se integrar ao programa multidisciplinar”, comenta.

Fonte: Ricardo Viveiros & Associados

Nenhum comentário: